Indie Pop Brasileiro com Alma Vintage: De Onde Vem Meu Som e Por Que Adotei Essa Estética

Publicado em 27 de setembro de 2024Categoria: General
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Quando as pessoas me perguntam sobre meu gênero musical e eu respondo "indie pop brasileiro", muitas vezes noto uma expressão curiosa buscando entender o que isso realmente significa. Não é apenas uma questão de colocar palavras juntas - é uma história de evolução musical, experimentação e autenticidade que quero compartilhar com vocês.

Raízes no Pop dos Anos 2000

Entre 2000 e 2007, durante minha adolescência em Minas Novas e depois em Diamantina, eu era aquela pessoa completamente apaixonada pelo pop. Cresci assistindo e me encantando com artistas como Sandy & Junior, Backstreet Boys, Rouge e BR’OZ. Esses projetos artísticos me fascinavam porque traziam a cultura pop para pessoas da minha idade de uma forma acessível.

Era mágico ver aquelas artistas se apresentando na TV - cantando, dançando e muitas vezes atuando também. Eu queria fazer parte daquilo, queria criar essa mesma conexão com as pessoas através da música. Essa foi minha primeira “escola” musical, aquela que plantou a semente do que viria a ser minha carreira.

A Influência da MPB na Minha Formação

Na pré-adolescência e início da adolescência, minha família teve um papel fundamental na minha educação musical ao me apresentar à MPB (Música Popular Brasileira). Em casa, era comum ouvir os grandes nomes como Caetano Veloso, Maria Bethânia e Milton Nascimento. E, até mesmo na escola, minhas professoras usavam músicas da MPB para explicar a história.

O que me fascinou na MPB foi entender suas origens como um movimento de protesto. Artistas que usavam a poesia e a música para dar voz a grupos marginalizados e para resistir à opressão durante períodos difíceis da história brasileira, como a ditadura. Isso me mostrou o poder que a música pode ter - não apenas como entretenimento, mas como veículo de comunicação e mudança social.

Nas aulas de literatura do ensino médio, comecei a me interessar profundamente por métricas e estruturas poéticas. Analisar poemas me abriu um novo mundo de possibilidades criativas. Percebi que a construção de uma boa letra tinha tanto valor quanto a composição musical em si. E foi quando eu comecei a “brincar” de escrever músicas, mas escondido.

Sempre tive uma conexão especial com músicas cantadas em português. Nosso idioma possui uma sonoridade que é só nossa, com nuances e possibilidades que outros idiomas não oferecem. A cadência natural do português brasileiro, com suas sílabas abertas e fechadas, cria uma musicalidade natural que passei a valorizar e incorporar nas minhas composições.

Artistas da MPB se tornaram referências importantes para mim, não apenas pelo virtuosismo musical, mas pela capacidade de contar histórias brasileiras, mas que o mundo inteiro vai querer ouvir. Essa influência se reflete até hoje na minha busca por letras que sejam poéticas e significativas.

A Descoberta do Rock Brasileiro e a Revolução do Hardcore Melódico e do Emo

Pouco antes de me mudar para Diamantina em 2006, comecei a fazer amizades que me apresentaram a um universo completamente diferente: o rock brasileiro. De repente, meus ouvidos estavam sendo apresentados a CPM 22, Charlie Brown Jr, Detonautas, Pitty e outras bandas.

Essa era foi o que considero uma época de ouro para o rock brasileiro. Artistas que estavam no underground começaram a ocupar espaços na mídia que antes eram dominados por outros gêneros. As guitarras estavam ganhando as rádios, ainda que de forma "comprimida" como um amigo costumava dizer - precisavam ser radiofônicas, não podiam ser muito pesadas.

Em Diamantina, um vizinho me apresentou ao hardcore melódico e ao emo - movimentos que dominaram a segunda metade dos anos 2000 e início dos anos 2010. Bandas como Glória, Fresno, NX Zero e Forfun me mostraram um rock diferente do que tocava no mainstream.

O que me cativou nessas músicas foi a combinação única: guitarras intensas com notas rápidas e agudas, instrumentais fortes, e ao mesmo tempo, letras profundamente vulneráveis. Em muitas das bandas, os vocalistas eram homens expressando sentimentos de forma direta: algo que trazia uma nova dimensão para a música que eu conhecia, mas foi além...

O emo foi fundamental no meu processo de abertura para ser uma pessoa — aos 19 anos, ainda sem saber quem eu era, descobrindo muito sobre mim — mais vulnerável para me abrir. E também para minhas experimentações estéticas. Quando comecei a criar minhas próprias músicas, naturalmente essa influência se refletia no meu som, algo que as pessoas reconheciam desde aquela época.

Hoje, quem ouve “Um Plano”, por exemplo, percebe que ela carrega muito essa estética do hardcore melódico, mas consegue fazer isso misturado com bandolim e orquestra…

O Caminho para o Indie

Minha trajetória continuou evoluindo quando comecei a escutar Panic! At the Disco. Particularmente, o álbum "Pretty. Odd." me chamou muita atenção por trazer uma sonoridade antiga, uma estética analógica, “de vinil” que me remeteu aos Beatles. E aí eu conheci o chamado “pop barroco”, estética comum nas producões dos Beatles.

Foi aí que passei noites em claro pesquisando cada detalhe sobre os Beatles, me apaixonando pela experimentação e inovações que eles trouxeram. Suas técnicas de produção e tecnologias revolucionárias me mostraram que música pode (e deve) ser um campo de experimentação.

Quando um amigo chamado Gustavo Nassar me convidou para produzir música juntos, e nasceu o projeto “Império dos Sentidos”, nossa música tinha uma estética voltada para o darkwave, do pós-punk, da música gótica, que são gêneros considerados os precursores do indie pop. No início, estranhei aquele som "sujo", mas aos poucos comecei a gostar e querer incorporar elementos daquela sonoridade no meu trabalho. O indie me vestia bem. “¡Entre!”, “Não” e “Eu Quero”, por exemplo, do álbum “Entre o Não e o Querer”, tiveram muita influência dessas estéticas.

E o termo "indie" representa muito mais que apenas "independente" - é como um "independentezinho", não para diminuir, mas para mostrar que é um trabalho mais íntimo, com uma comunidade próxima, com aquela essência do "Do It Yourself", onde vários aspectos são feitos pelos próprios artistas. E DIY é o que eu mais faço. (Esse blog que você está lendo foi todo programado por mim)

Indie Pop Brasileiro com Alma Vintage

Então, no final das contas, eu tinha muitas influências. E eu precisava definir em qual “prateleira” eu estou. Eu não queria abrir mão do pop que sempre amei, mas também queria incorporar esses novos elementos. O indie pop se tornou uma ponte perfeita entre esses mundos. E, pra completar a receita, eu resgatei o elemento brasileiro: a MPB que eu amo.

Hoje, quando digo que faço indie pop brasileiro, estou falando de um resgate de toda essa história, dessa trajetória e desse conjunto de influências: tudo junto e misturado na medida certa. Carrego com orgulho essa fusão no meu som, principalmente porque ela é verdadeira. Cada composição tem uma base nessa história de descobertas e fascínios musicais que fui acumulando ao longo dos anos.

Adiciono a isso uma "alma vintage" porque adoro o processo de experimentação e a estética analógica. Em um mundo dominado pela perfeição digital, valorizo o chiado, o quentinho, o “erro” do analógico. Faço isso desde 2012 com o álbum "40 Minutos", um trabalho caseiro que já trazia essa essência, e tenho trazido isso fortemente no projeto “QUEM EU SOU?”.

“Ser Quem Você É” Acima de Tudo

No final, o que importa não é se o que você faz será considerado "cafona" ou "hype". O que realmente importa é ser verdadeiro. Vou continuar fazendo aquilo que aos meus ouvidos agrada, que para a produção musical faz sentido, que para a engenharia de som seja possível de mixar - e principalmente, que conte minha história do jeito que eu quero que seja contada.

O indie pop brasileiro é meu jeito de dizer que sou independente e conectado com o som de fora sem abandonar minhas raízes pop, brasileiras, do Vale do Jequitinhonha mineiro… dos sonhos de infância, da minha turma dos amigos da banda de rock, dos experimentos com Gustavo, da MPB que eu ouvia, adolescente, na casa da minha tia. É minha forma de criar uma música que conversa com o passado e o presente, que mistura o mainstream e o underground, que é comercial sem deixar de ser artística.

E se você chegou até aqui procurando entender o que é "indie" nos dias de hoje, talvez a resposta mais sincera seja: é liberdade. Liberdade para misturar influências, para experimentar sonoridades, para contar histórias do seu jeito. No meu caso, é isso tudo com sotaque do agreste mineiro… e um pouco de chiado de vinil.

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