Jimmy Andrade

Questionar as normas é libertador. Neste post, compartilho um pouco sobre meu entendimento do que é pansexualidade, como isso transformou minha visão de mundo e influencia minha arte.

Antes de Falar da Pansexualidade: Um Caminho de Descoberta

Eu sempre questionei minha própria sexualidade, mesmo quando ela parecia muito “bem definida”. Até 2019, eu me identificava como um homem cis gay. Foi naquele período que comecei a questionar profundamente o que significava "ser homem" na nossa sociedade e percebi que não cabia 100% nesse rótulo que me foi imposto.

Olhando para meu passado, lembrei que em alguns momentos eu acreditava que poderia me sentir atraído por mulheres. Nessa época, eu dizia que era bi - em parte porque achava que a sociedade aceitaria melhor essa definição do que se eu falasse que gostava de homens. Mal sabia eu que, nos tempos atuais, pessoas bissexuais sofrem tanta invalidação quanto gays e lésbicas.

Bissexualidade e Pansexualidade: Entendendo as Diferenças

Em algumas palestras no passado, cometi o erro de dizer que bissexualidade era quando uma pessoa se sentia atraída por apenas dois gêneros, levando em consideração uma ideia binária. Essa definição está equivocada.

Hoje entendo que:

• Bissexualidade: atração por duas ou mais identidades de gênero;
• Pansexualidade: atração independente de gênero ou corpo;

A diferença sutil, mas importante, é que na pansexualidade o gênero simplesmente não é um fator na atração.

Não é que "todos os gêneros entram na conta", mas sim que gênero não é parte da equação.

A Pansexualidade Como Plataforma de Questionamento

Hoje percebo que a pansexualidade não é apenas uma orientação sexual, mas também uma plataforma de questionamento das normas cisnormativas e da binariedade de gênero.

Quando comecei como pesquisador do projeto Diversidade Sexual e Cidadania, fui apresentado a narrativas e corpos que não se encaixavam na ideia cisgênera. Inicialmente, ainda tinha uma visão binária: homem cis e homem trans são homens, mulher cis e mulheres trans, pronto e acabou.

Mas ao me mudar para Belo Horizonte, conheci pessoas que se identificavam com gêneros diversos, além do binário homem/mulher. Aí veio a pergunta: se alguém sente atração por pessoas que não se identificam exclusivamente como homem ou como mulher, como definir isso?

A verdade é que pansexualidade é sobre conexão humana para além das categorias de gênero. É sobre ver a pessoa antes de ver seu gênero ou seu corpo.

Como a Pansexualidade Influencia Minha Arte

Minha música nasce da minha vivência completa, incluindo como vejo e sinto o mundo. Atualmente, me considero uma pessoa panromântica - já me senti apaixonado por homens cis, mulheres cis e homens trans, por exemplo. E aceitar esse sentimento me lembra do quanto é libertador quando a gente decide romper com as limitações. Muito do que eu vivi me permitiu — e me permite — escrever canções que falam de conexões humanas de forma universal. Por mais que meu público seja principalmente de Pessoas LGBTQIAPN+, a música que eu faço ressoa para todas as pessoas.

Quando componho, tudo parte de uma experiência minha, mas não quero me limitar a escrever sobre relacionamentos dentro de um padrão específico.

Eu quero explorar a multiplicidade de experiências afetivas que existem, contribuindo para que mais pessoas se sintam representadas e acolhidas.

A Libertação dos Rótulos Binários

Imagina que libertador começar a perceber que o que te atrai nas pessoas não são elementos binários ou sexuais. É óbvio que, por causa da sociedade em que estamos inserides, temos vieses de atração pelo masculino (androssexualidade) ou pelo feminino (ginessexualidade ou ginossexualidade), mas essas definições podem coexistir. Eu, por exemplo, me considero androssexual. Isso significa que eu me sinto atraído por elementos masculinos (não significa que eu me sinta atraído “só” por homens).

É importante dizer que esse post não é um pedido para que as pessoas abandonem suas identidades de gênero. Eu costumo dizer que o gênero de alguém não deve ser questionado. O que digo é que, quando sentimos atração por alguém, seria interessante questionar quanto o gênero, o aparato sexual ou o corpo dessa pessoa é um fator que nos limita ou nos aproxima.

Perguntas Frequentes Sobre Pansexualidade

Por que existem tanto a letra B quanto a P na sigla LGBTQIAPN+?

Porque são orientações sexuais distintas, com histórias e vivências próprias. Cada letra representa lutas e experiências únicas que merecem ser reconhecidas. A bissexualidade e a pansexualidade, embora possam parecer semelhantes, têm definições e perspectivas diferentes sobre atração.

Toda pessoa pansexual se relaciona com qualquer pessoa?

Não! Ser pansexual não significa ausência de preferências ou critérios. Significa apenas que, dentre esses critérios, o gênero não é um fator determinante. Ainda há preferências de personalidade, valores, interesses e outras características que podem ser atraentes em potenciais afetos.

A pansexualidade é uma "moda" recente?

Não. Embora o termo tenha ganhado mais visibilidade recentemente, pessoas com atração independente de gênero sempre existiram. O que mudou foi nossa capacidade de nomear e entender essas experiências, assim como nossa compreensão mais ampla sobre gênero além do binário.

Reflexões Finais: Para Além das Definições

Mais importante que o rótulo que a gente é entender que as orientações sexuais são diversas e fluidas: algumas pessoas se identificam com a bissexualidade, outras com a pansexualidade, e isso é válido. O que importa é respeitar como cada pessoa se identifica e entender que essas identidades são formas de expressar experiências complexas de atração e afeto.

E você, já tinha ouvido falar sobre pansexualidade? O que você pensa sobre orientações sexuais para além do binário heterossexual/homossexual ou mesmo para além da bissexualidade. Você é uma pessoa pan? Se sim, você consegue se identificar com as histórias das minhas músicas?

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