Sincera/Mente: A História de Uma Música Que Celebra a Autenticidade
Era verão de 2010, e eu estava em Belo Horizonte finalizando meu tratamento contra depressão. Durante esse período, me dediquei intensamente à composição musical - muitas dessas criações, inclusive, são parte dos meus próximos lançamentos. Após um longo tempo sem me relacionar com ninguém, decidi me abrir para novas possibilidades, e foi quando conheci um boy.
Nosso encontro aconteceu de forma despretensiosa, navegando pelo Twitter. Começamos a nos seguir e descobrimos que morávamos na mesma cidade - Diamantina (MG) - embora ele estivesse de férias em sua cidade natal, próxima de onde eu estava. Iniciamos longas conversas por telefone, um jeito mais fácil de nos conhecermos até que pudéssemos nos encontrar pessoalmente.
Durante essas conversas, comecei a escrever tweets inspirados em nossos diálogos, mostrando a ele depois. O que eu não sabia é que, anos mais tarde, esses tweets se transformariam nos versos da primeira parte de "Sincera/Mente".
Quando a Realidade Bateu à Porta
Ao retornarmos para Diamantina, onde ambos estudávamos, eu tinha a expectativa de que nosso relacionamento evoluiria naturalmente. Mas a realidade se mostrou bem diferente do que eu imaginava.
Percebi que toda vez que nos encontrávamos, ele agia como se estivesse fazendo algo errado. Se certificava que não haveria ninguém em casa para podermos nos ver. Quando um colega apareceu de surpresa, me apresentou como "um primo que tinha chegado à cidade". Pediu que eu não contasse para ninguém – nem mesmo para minhas amizades próximas – que estávamos juntos.
Naquela época, eu já era completamente aberto sobre minha sexualidade. Foi um choque perceber que estava em um relacionamento onde não podia ser eu mesmo, porque ele não queria que as pessoas soubessem que "andava" com alguém da População LGBTQIAPN+. Tive então uma conversa sincera com ele, expressando meu desejo de terminar. Mesmo entendendo que ele não queria que sua sexualidade fosse conhecida pelos outros, era insuportável para mim não poder vivenciar a minha própria autenticidade – e isso falava mais alto que minha vontade de estar com ele.
A Composição: Duas Partes de Uma História
Quando finalmente compus a música, utilizei os versos dos tweets da época da paixão para construir a primeira parte. Na segunda, trouxe o outro lado da história: o dilema que vivia, sentindo que a "chama do amor" havia se apagado e, mesmo sabendo que poderia viver bem sem ele, ainda sentia falta de estarmos juntos.
A barra "/" que divide a palavra "Sincera/Mente" é um recurso visual e conceitual que uso para separar essas duas partes da história. No fim, essa música celebra aquele momento em que fui capaz de abrir mão de alguém para priorizar ser QUEM EU SOU – minha autenticidade, minha sinceridade. Mais que ser sincero com ele, eu estava sendo sincero comigo mesmo.
A Estética Y2K: Uma Viagem aos Anos 2000
Em 2018, quando iniciei a primeira fase de pré-produção, percebi que a música "pedia" arranjos que remetessem aos anos 2000 – especialmente aquelas produções de Max Martin, que considero icônicas e representativas da estética daquela época.
Tenho uma história engraçada sobre isso: quando apresentei a versão de pré-produção a algumas pessoas do mercado, recebi comentários como "essa música não vai funcionar, porque é datada demais". Diziam que a bateria era muito eletrônica, que soava artificial, que parecia música feita nos anos 2000. Mas essa era exatamente a validação que eu precisava para entender se estava conseguindo remeter as pessoas à época certa!
Hoje estamos vivendo um momento em que a nostalgia dos anos 2000 voltou com tudo – festas, estética, artistas – e esse é o timing perfeito que eu precisava para este lançamento.
A Produção: Unindo o Melhor de Dois Mundos
Quando entrei em estúdio para produzir a versão definitiva, mostrei aos produtores referências de músicas produzidas por Max Martin e outros produtores icônicos da época. Isso incluía Backstreet Boys e Britney Spears, mas também produções brasileiras como Sandy & Júnior, Rouge e BR'OZ.
Eu e Victor Amaral (engenheiro de som) passamos horas pesquisando samples e loops dos anos 2000, editando bateria e trabalhando com strings. Como tínhamos receio de que a música soasse excessivamente datada ou artificial, convidamos Lucas Baudson, um dos melhores bateristas que eu conheço, para gravar uma bateria acústica. Um dos aspectos mais interessantes dessa produção é que há duas baterias soando simultaneamente, sendo uma delas — pasmem — gravada por mim. As strings que gravei também na fase de pré-produção foram todas reaproveitadas.
A Capa: Uma Feliz Coincidência
Queria criar uma capa que remetesse ao contexto que inspirou a música: uma relação de uma era pré-smartphone, quando muita gente ainda se conectava por chamadas telefônicas e a internet não estava tão presente em nossas vidas como agora. Como em todas as capas dos meus singles do projeto QUEM EU SOU?, existe a inicial da música (a letra "S") que aparece ao meu redor e representa a divisão entre as duas partes da canção.
A foto da capa tem uma história interessante. Inicialmente, a capa de "Sincera/Mente" seria uma versão "ciborgue" do meu rosto, bem ao estilo dos anos 2000. Estávamos em uma loja de vinis fazendo o ensaio fotográfico e a gravação do videoclipe da música, ao descer as escadas do mezanino, Rafael Sandim (fotógrafo) me avisou que, antes de encerrarmos a sessão, iríamos fazer umas fotos na loja de discos. Ele fez uma foto minha, através do reflexo de um CD, em que estou de regata branca, bem anos 2000, e, atrás, vários discos afixados na parede. Ambos amamos o resultado.
Naquele mesmo dia, começamos a editar as fotos. Na época, ainda não existia a tecnologia de inteligência artificial para alteração de fotografias da forma como existe hoje. Então tenho orgulho de dizer que conseguimos criar imagens muito diferente para a capa sem precisar usar nenhum processo de inpainting.
Veio Aí & O Que Vem Por Aí
"Sincera/Mente" está sendo lançada hoje, 03 de novembro de 2023, e o videoclipe chegará em breve. E, mais à frente, também lançarei o álbum QUEM EU SOU?, incluindo este single, outros lançados anteriormente, além das próximas músicas. Este projeto é justamente o resultado da mistura inesperada de todas as minhas influências musicais, mas que define quem eu sou.
Alguns dos novos singles já estão processo de arranjos, produção e mixagem. O próximo, por exemplo, vai explorar um lado mais melancólico e reflexivo das minhas vivências, mas mantendo o tema central do autoamor e do autorrespeito como algo mais importante que qualquer relação.
Também planejo retomar os shows que realizava antes da pandemia de COVID-19. Para mim, os shows são a melhor forma de me conectar com meu público e levar minhas músicas ao mundo – uma experiência que não vejo a hora de vivenciar novamente.
Tô feliz em compartilhar "Sincera/Mente" com vocês e espero que esta música se conecte de alguma forma com suas próprias experiências de autenticidade e autodescoberta. Afinal, ter sinceridade consigo é o primeiro passo para gente poder ser verdadeiramente quem a gente é.
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